segunda-feira, 6 de setembro de 2010

As linhagens nobres dos Astete e a chegada à América

São as Casas Solares de Valladolid e Quintanaélez as principais linhas de fidalgos dos Astete, e são estas as notícias de suas sucessões:

Valladolid

Da casa solar desta cidade procedeu :


I. Lorenzo de Astete, natural de Valladolid, foi reconhecido como "hidalgo" em 1560, e contraiu matrimonio com Luisa de Monroy, da mesma cidade. Deste enlace nasceu:


II. Miguel Astete de Monroy, batizado em 12 de dezembro de 1570 na Igreja de San Miguel, em Valladolid, onde teve duas casas principais na “plazuela del Conde de Nieva”. Don Miguel Astete Monroy foi morador de Villamuriel, próximo a Palencia, onde teve uma fazenda, e foi reconhecido como “Noble Hijodalgo”. Casou-se com Ana María de Villapadierna y Pereira, batizada em Madrid em 1 de maio de 1566, de família originaria de Salamanca (filha de Lope de Villapadierna e de Beatriz Pereira).

Foram pais de:

1.º Juan Antonio Astete de Monroy y de Villapadierna y Pereira, batizado na Igreja de San Miguel em Valladolid em 27 de janeiro 1599, foi Caballero de Santiago, em cuja ordem ingressou em 15 de Janeiro de 1641. Foi capitão de infantaria dos famosos "Tercios" espanhóis, lutou com distinção na Batalha de Rocroy contra os franceses, e morreu combatendo na Holanda a serviço de S. M. El Rey de España.

Tercios espanhóis em ação em gravuras do século XVII


Além de sua trajetória como militar, Juan Astete Monroy foi, no entanto, também um poeta, amigo de Lope de Vega, para quem compôs os seguintes versos fúnebres que fazem parte dos Sonetos de España:

“El grande, el raro, el solo, el peregrino

admirado esplendor del suelo Hispano,

hoy a la muerte satisfizo humano

las sospechas que tuvo de divino.”

Trecho de “A la muerte de Lope de Vega” Juan de Astete Monroy

2.º Beatriz Astete de Monroy y de Villapadierna, da qual segue a linha de sucessão.


III. Beatriz Astete de Monroy y de Villapadierna, viu o nome de sua família correr o risco de se extinguir com a morte do seu irmão Juan. Ao mesmo tempo, tornou-se uma rica herdeira ao receber o mayorazgo, fundado por seus bisavós Miguel Astete e Mencía Fernandez, que cabia a seu irmão. Foi batizada em Valladolid em 13 de Dezembro de 1608, e em 1652 teve que provar sua limpeza de sangue perante o Consejo de Órdenes, para ter reconhecido seu casamento (realizado em 15 de Janeiro de 1643 na Igreja de San Miguel) com o Caballero de Santiago Juan Arce y Otalora. Juan de Arce foi Oidor de la Chancilleria de Valladolid, chegou a ser conselheiro da corte de Castela e era membro de uma aristocrática família de La Rioja, de ascendência burgalesa e guipúzcoana. Beatriz e seu marido foram responsáveis pela sobrevida do sobrenome Astete da casa de Valladolid através de seus filhos:

1º Manuel de Arce Otalora y Astete, que segue a linha de sucessão.

2º Diego Esteban de Arce y Astete, corregedor de Ávila e Caballero de Alcântara (título concedido em 1664).

3º José Antonio de Arce y Astete, Caballero da Órdem de Calatrava (título concedido em 1664).

IV. Manuel de Arce Otalora y Astete, foi batizado em Oviedo em 28 de Agosto de 1644, ingressou na Ordem de Santiago em 1657. Foi um destacado magistrado, como seu pai, atuando como juíz criminal na corte de Valladolid e como corregedor de Guipúzcoa. Integrou o conselho de Castela de 1690 a 1705. Sua filha Tereza desposou um aristocrata de Segóvia, Don Antonio del Sello em 1710. Don Manuel depositou seu brasão de armas na capela dos Astete Monroy, na extinta Igreja de San Miguel em Valladolid.


Real Iglesia de San Miguel y San Julián

A paróquia de San Miguel, a mais antiga de Valladolid, é a primeira referência de relacionamento da família Astete com um templo específico, por isso sua atual igreja é considerada para nós um local de devoção. Para os Astete das Américas, em passagem pela Espanha, é mandatório ali orar, receber a bênção e depositar o dízimo. É sem dúvida uma capela belíssima, com um grande acervo astístico.

A história da família com essa igreja começa no século XVI, quando em 1536 Maria Astete e seu marido Antonio Santillana batizam alí seu filho, Antonio Santillana Astete. Uma tradição no entanto só começou a se formar quando Miguel Astete de Monroy foi nela batizado. Don Miguel teve alí uma capela principal que fazia parte do seu "mayorazgo", sendo também o local do sepultamento. A partir de então a Paróquia de San Miguel passa a registrar a realização de batizados e casamentos de descendentes de Don Miguel e outros Astete de Valladolid. Como era costume na época, os Astete Monroy tiveram seu brasão num dos contrafortes da igreja, entre os dos demais patronos. O casamento de Teresa de Arce Astete Arrieta Monroy com Don Antonio del Sello Marquez de Bracamonte, em 18/06/1710, possivelmente encerra a tradição. Por volta de 1750, a igreja de San Miguel se encontrava em abandono, e por seu mau estado de conservação acabou por ser demolida. Por este motivo a paróquia de San Miguel acabou por ser transferida para o edifício da antiga Igreja de Santo Inácio de Loyola, a 100 metros dalí, que havia sido expropriada dos jesuítas quando estes foram expulsos da Espanha. Abrigando também a paróquia de San Julián, a antiga capela jesuíta do século XVI passou a ser chamada de "Real Iglesia de San Miguel y San Julián", sendo mantida pela coroa espanhola.


Burgos

A “Casa Solar” de Quintanaélez foi erguida onde provavelmente viveram os ancestrais imemoriais dos Astete. Quem vai à região de “La Bureba” quase pode sentir o peso dos séculos passados ali. São campos planos e verdes, entrecortados por inúmeros riachos que desguam no rio Oca e, finalmente, no Ebro. Circundando esta região, que já foi conhecida como o “celeiro de Castela” por sua antiga e pujante agricultura, vemos ao norte e a leste as montanhas brancas que os Astete tinham como paisagem, os Montes Obarenes.

Obarenes vistos do Valle de la Bureba



É impossível não vê-los contrastando com o campo verde. Deve ter sido esta a imagem que levaram de sua terra, quando cruzaram o mar para não mais voltar: foi daqui que saiu o ramo que fundou a família na América. A Bureba sempre esteve no “Caminho de Santiago”, e é a porta de entrada da Europa para o antigo “Reyno de Castilla”, protegida a leste pelo desfiladeiro de Pancorbo, conhecido como “as Termópilas espanholas”. Para além de Pancorbo chegava-se ao reino de Navarra (parte do que hoje se conhece como "País Basco") aos Pirineus e, finalmente, à França. Em direção ao sudoeste encontramos “La Poza de la Sal” e suas antigas salinas protegidas, do alto de um penhasco, pelo “Castillo de los Rojas”. Do castelo se vê todo o Valle de la Bureba, a leste e ao norte, e o mesmo castelo guarda, do lado sudoeste, a estrada e a estreita passagem vinda do Páramo de Masa, elevação que dava acesso ao restante de Burgos.

Castillo de los Rojas (Poza da La Sal) e sua vista do Valle de la Bureba (com Carolline)



O Castillo é dos séculos XI e XII e certamente impedia o acesso à única passagem segura para expedições armadas à região. La Bureba foi sede de um dos primeiros Bispados católicos da Castela, e foi em Briviesca que foi criado o título de “Príncipe de Astúrias” para o herdeiro da coroa, que existe até hoje.

Quintanaélez (com vista para o Páramo de Masa)

São estas as informações que temos sobre a sucessão da Casa Astete de Quintanaélez:

I. Melchor Astete de Ulloa, foi Regente dos “Hijosdalgo” em 1598, 1613 e 1632, e “Alcalde de los Hijosdalgo” em 1628. Foi cobrador de rendas e procurador do "Cabildo" de Potosí em Madrid. Viveu parte de sua vida em Salamanca. Casou-se em Miraveche, a poucos quilômetros de Quintanaélez, em 30 de Junho de 1575 com Petronila de Zárate, nascendo desta união:

1.º Bartolomé Astete de Ulloa y Zárate, que segue a linha de sucessão,

2.º Antonio de Astete de Ulloa y Zárate, prefeito dos fidalgos de Quintanaélez en 1636.

3.º Gaspar Astete de Ulloa, funcionário real ao lado de Bartolomé Astete no vicerreino do Peru.


II. Bartolomé Astete de Ulloa y Zárate, é o fundador da família Astete das Américas. Dele descendem direta e indiretamente pessoas que vivem hoje no Peru, na Bolívia, no Chile, Argentina, México, Brasil e Estados Unidos, isto se consderarmos apenas os países onde são freqüentes. “Don Bartolomeu”, como é conhecido pelo ramo brasileiro, foi batizado em Miraveche em 30 de Março de 1578. Foi reconhecido como fidalgo nos censos (Padrones) de Quintanaélez em 1598 e 1613. Em 1598 lançou-se ao mar, rumo ao Peru, e começou a servir em 1600 como “Gentilhombre” (auxiliar direto e protetor de autoridades e comandantes) lotado na “Armada de la Mar del Sur”. Como militar chegou ao cargo de “Teniente Capitán General” do Peru. Consta nos registros da “Casa de Contratación” dos “Archivos Generales de Índias” que Don Bartolomeu foi nomeado, em 23 de Março de 1613, administrador e regente das minas da região de “Charcas”, no alto Peru, que hoje é boa parte da Bolívia. Foi seu desempenho como “correjidor” de Charcas e administrador das minas de Potosí, a maior jazida de prata do mundo à época, que fez seu prestígio político.

Minas de Prata em Potosí em gravura de 1715

Em todos os documentos em que é descrito, Don Bartolomeu é citado como um habilíssimo administrador e político astuto. E foi graças ao grande senso de oportunidade que acabou por sufocar em 1625, com muitas mortes e prisões, a rebelião dos “Vicuñas”. Este era um grupo de mineiros locais que, em sua richa com os “Vascongados” desde 1622, acabaram por se tornar bandoleiros e criar grave ameaça à soberania espanhola sobre o alto Peru. A Don Bartolomeu não restou inimigo, e conta-se que se tornou tão poderoso que era capaz de mandar interceptar cartas de seus raros detratores, antes que chegassem à Espanha. Foi então nomeado “Contador de las Cajas Reales de Lima”, cargo que correspondia a ser o secretário da fazenda de todo o Vice-Reino do Peru. Exerceu o cargo provavelmente a partir de 1634 e assinou os registros contábeis até 1662. Durante seu longo mandato enfrentou, certa vez, acusação do Vice-Rei de irregularidade contábil, tendo sido processado e afastado do cargo, junto com o contador real Sotomayor, de 1650 a 1654. Tinha, até então, um currículo ilibado, e já demonstrara, longamente, sua lealdade à coroa bem como seu caráter reto, o que lhe valeu uma meteórica carreira militar e burocrática. Se manifestaram em sua defesa diversas autoridades peruanas e de Potosí, o que contribuiu para que fosse reconduzido ao cargo e inocentado. Porém, as denúncias eram de fato verdadeiras, como de resto foram comprovadas para praticamente todos os oficiais do tesouro e corregedores do vice reino, até as reformas dos Bourbon, no final do século XVIII. Segundo os historiadores do período, como Kenneth Andrien, no momento em que a coroa espanhola passou a vender os cargos de corregedores e mesmo de oficiais das “Cajas Reales” para cidadãos do vice-reino, estes sentiram ser mais conveniente favorecer os contribuintes locais e fortalecer suas alianças do que defender, por meio das armas, os interesses de um Rei do outro lado do mar. Os próprios oficiais exploravam como particulares as minas e outras fontes de riqueza, maquiando depois registros contábeis para não pagar impostos. Este fato, ao lado das guerras religiosas do século XVII, explicam o declínio do império espanhol. Os trágicos acontecimentos da guerra dos Vicuñas em Potosí, marcados por dezenas de assassinatos de espanhóis, certamente fizeram Don Bartolomeu entender a delicada posição de uma autoridade real no vice-reino, e parecem tê-lo feito “optar” pela política local, inaugurando uma controversa tradição. A grande riqueza e a influência de Don Bartolomeu no Peru fizeram com que vários outros membros da família, da casa de Burgos (praticamente toda, aparentemente) e de Valladolid, se transferissem para o Perú ainda no século XVII. Lá se dedicaram à mineração e à atividade burocrática, e se consolidaram como uma família muito proeminente e progressivamente numerosa. Não se sabe ao certo quando faleceu Bartolomé Astete de Ulloa, mas a julgar pelos registros contábeis que assinou, viveu além dos 84 anos. Casou-se em duas ocasiões: a primeira com Juana Barahona de Loaysa, e a segunda em Lima em 24 de Agosto de 1639, com Inés Bravo de Zárate y Verdugo, natural da mesma cidade (filha de Lorenzo de Zárate e de Dona Inês, da aristocrática família Verdugo). Do segundo enlace nasceu:


III. Melchor de Astete y Zárate, batizado em Lima em 31 de Janeiro de 1648, que casou na “Ciudad de Los Reyes” (Lima) em 29 de Maio de 1664 com María de Zárate y Ulloa, batizada em Lima em 25 de Agosto de 1650 (filha de Andrés de Zárate e de Isabel de Ulloa, ambos naturais de Lima). Deste matrimonio nasceu:


IV. Andrés de Astete y Zárate, batizado em Lima em 25 de Novembro de 1669, Capitão da “Compañía de Arcabuceros” e “Caballero de la Orden de Santiago”, na qual ingressou em 31 de Outubro de 1704.


Um comentário:

María del Carmen disse...

Hola André! Mi nombre es Maricarmen Astete León, soy de Lima-Perú, pero toda mi familia paterna es del Cuzco. Uno de mis tíos, Aníbal Baca Astete, ha trabajado durante años nuestro árbol geneálogico y sus estudios coinciden muchísimo con los tuyos. Pero tanto a nosotros, como a ti nos ha quedado la duda acerca de nuestro parentesco con el conquistador y cronista Miguel de Estete. Como tú señalas, parece que también haya sido un "Astete", teniendo en cuenta la cercanía geográfica de su lugar de nacimiento con el de los orígenes de la familia.

Gracias por la página y por hacernos sentir orgullosos de nuestra familia que tantos hombres prominentes ha dado al mundo.

Muchos saludos desde Perú

Maricarmen

P.d: para cualquier consulta mi correo electrónico es: maricarmenastete@hotmail.com