segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O último século do Vice Reino do Perú e a Independência das Américas

O final do século XVIII e o início do século XIX foram marcados por sublevações e movimentos revolucionários, na Europa e no continente americano. De forma geral, tais eventos acabaram ganhando feições independentistas nas Américas, mesmo que não fosse esta sua motivação inicial. Os Astete foram, em sua maioria, ligados aos exércitos e à burocracia do Vice-Reino do Peru e leais à coroa espanhola. Porém, também participaram de sublevações e nas guerras da independência, como muitas outras famílias, viveram experiências fratricidas. Entre os documentos publicados e acessíveis pela internet encontramos citações das seguintes pessoas:

Os Astete do Cuzco

O sobrenome Astete parece bastante freqüente, hoje em dia, na região do Cuzco. Parte disto se deve ao envolvimento tradicional da família com a atividade de mineração, desde o mandato de Don Bartolomeu em Potosí. Possivelmente desta tradição surgiu ao menos um núcleo aristocrático da família Astete, na cidade do Cuzco, que teve na segunda metade do século XVIII o advogado Don Domingo Luis Astete y Mercado como seu patriarca. Atuando na Real Audiencia de Lima, e dono de grandes propriedades rurais, Don Domingo comprou uma parte do antigo palácio, que fora edificado por ordem do Inca Tupac Yupanqui (sucessor de Pachacútec) mais de 300 anos antes. O palácio havia sido transformado em Solar e dividido entre famílias aristocráticas. Os descendentes de Don Domingo viveram no solar por 200 anos, e foram sempre pessoas destacadas, no tempo do Vice-Reino, durante a emancipação e no início da República. Teve dois filhos notáveis, o Coronel Pablo Astete e o advogado Domingo Luis Astete.

Pablo Astete

O coronel do Exército Realista Pablo Astete era cuzqueño e sempre esteve ao lado da coroa espanhola. Combateu contra o levante de Tupac Amaru II, e testemunhou sua execução em 1781; Em 20 de junho de 1811 comandou uma das divisões das tropas do General Goyeneche na batalha de Huaqui, contra as forças independentistas argentinas. Esta batalha resultou em ampla derrota dos platinos, a ponto de seu exército acabar em fuga desordenada, e determinar a reconquista do território do Alto Peru para o Vice-Reino. Também combateu neste episódio, no mesmo exército, seu irmão o Tenente Coronel Domingo Luis Astete sob ordens do Coronel Pablo. Tanto o Coronel Pablo como seu irmão abandonaram o exército após a derrota de Tucumán e da capitulação de Salta, onde estiveram no comando de batalhões realistas.

Domingo Luís Astete

Natural do Cuzco, foi advogado como o pai e oficial do exército realista ao lado do irmão. Após seu afastamento do exército, em 1814, viu eclodir no Cuzco a revolta liderada pelo oficial Brigadeiro Mateo García Pumacahua, um cacique do povo Chinchero, que havia se tornado líder dos remanescentes incas e ganhado prestígio e patente militar junto à coroa espanhola. Pumacahua e os irmãos criollos Angulo haviam deflagrado a rebelião para que fosse reconhecida no Peru a carta constitucional de 1812, válida para a Espanha. Tal constituição tinha muitos itens liberais que se pensava em estender às colônias, e abolia muitas das “leis para as índias” que tanto desagradaram aos “criollos”. Com a restauração monárquica em 1814 a constituição foi abolida, e um retrocesso absolutista se anunciava. Domingo Astete apoiou o movimento inicialmente, e fez parte da junta rebelde de governo do Cuzco, como representante civil. Manteve, no entanto, um relacionamento difícil com os irmãos Angulo e com Pumacahua, tendo sido vítima de atentado ordenado por Vicente Angulo. Sobreviveu ao ataque e se afastou da participação da junta, não voltando a tal função mesmo diante dos pedidos de reconsideração por parte de José Angulo. Imediatamente se tornou claro que a revolta era um precedente que poderia significar o alastramento de um movimento independentista no Peru. Pumacahua e os Angulo se lançaram em expedições de expansão do movimento. Os insurgentes foram derrotados pelas forças do Vice-rei, o Marquês de la Concórdia, e Pumacahua e os Angulo foram executados. Depois destes incidentes, Domingo Luis Astete dedicou o resto de sua vida a defender como advogado pessoas pobres e amigos.


Campanha de Libertação - fase final

José Santos Astete

Foi um oficial do “Exército Patriota do Chile”, sob ordens de Bernardo O’Higgins, na campanha de libertação retomada após a chegada de San Martín. Em 1817 comandava tropas na fronteira norte do Chile libertado, como Capitão de Cavalaria das milicias. Foi governador militar das cidades de San Carlos e Rere e responsável pela morte do bandoleiro Antonio Pincheira, que era membro da família que aterrorizava a região com assassinatos, saques e seqüestros.

Batalha de Junín

O combate entre o exército de Bolívar e as tropas do General Realista José de Canterac foi um dos últimos episódios da derrota do Vice-Rei La Serna, o que determinou a independência do Peru. Bolívar contava com 9.000 infantes e 1.000 cavaleiros, enquanto Canterac tinha 3.000 soldados na infantaria e em torno de 1.300 da cavalaria, além de 9 peças de artilharia. Os batalhões de Canterac estavam, na verdade, isolados do corpo principal do Exército Realista, e tentavam fugir para se reagrupar ao mesmo. Em 6 de agosto de 1824, à beira do lago nos Pampas de Junín, Bolívar os alcançou. Os espanhóis atacaram com uma maciça carga de cavalaria, antes que a infantaria de Bolívar tivesse tempo de se agrupar, obrigando os cavaleiros do “Exército Patriota” a dar combate e depois tentar fugir. Porém a manobra de Canterac foi envolvida pela retaguarda e, em 45 minutos, a quarta parte dos cavaleiros reais estava morta, 80 estavam prisioneiros, e seus inimigos haviam sofrido 150 baixas.

General Canterac e Bolívar nos campos de Junín

Foi um rápido e feroz combate a 4.000 metros de altitude, travado com sabres, lanças e lutas corpo a corpo. Não foi disparado um único tiro, nem de fuzil, nem de canhão. Conta-se, em minha família, que ao lado dos realistas estava Don Rafael Astete, nosso antepassado direto (em verdade, meu tataravô) um militar nascido em Salamanca, que conseguiu escapar com as tropas restantes de Canterac, abrigando-se nos Andes. As tropas espanholas em fuga foram perseguidas pelas milícias patriotas, até as montanhas. Entre os perseguidores figuraram os coronéis Careño, Otero e Terreros, o comandante Peñaloza e o Major Justo Astete, do qual não encontrei outras informações. O fim dos realistas se daria em dezembro, na batalha de Ayacucho.


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