segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Origem e primeiros registros

Estes textos são dedicados à história, aos personagens (muitos heróis verdadeiros) e aos descendentes de uma das famílias pioneiras da América.

Introdução e considerações etimológicas
Os Astete são de origem espanhola e carregam um velho sobrenome vasco-castelhano. O primeiro registro de sua presença é do século XV, em Santo Domingo de la Calzada (atualmente em La Rioja). Nas primeiras décadas do século XVI estavam também em Salamanca, na província e na cidade de Valladolid (onde eram, aparentemente, numerosos) e na província de Burgos.
Reproduções dos prováveis Brasões dos Astete
À esquerda conforme descrito nos tratados de heráldica .
À direita o brasão do Caballero de Santiago Manuel de Arce Otálora y Astete
O nome “Astete” parece ser um toponímico de influência Basca, o que faz pensar numa origem realmente antiga, anterior à consolidação do idioma castelhano nessas províncias. Pareceria tentador supor que haja relação com a palavra "Aste", que em basco moderno quer dizer "dia de trabalho" ou "semana", mas é pouco provável que seja a suposição correta, por carecer de sentido toponímico. Há outras hipóteses mais prováveis. Na língua dos Bascos, "Arte" significa carvalho, e "eta" ou "ete" proximidade, localização. A mesma interpretação se faz, no entanto, para "Arteaga", outro sobrenome basco, o que gera dúvidas em relação à origem de "Astete". Haveria realmente plausibilidade para a hipótese de que "Arte" tenha sido suavizada para "Aste" com o tempo? Alternativamente poderíamos considerar a raiz "Asto", utilizada para animais de carga. Portanto, pode-se especular que o nome Astete possa ter sido atribuído a pessoas que viviam próximas a um local com muitos carvalhos ou onde se criavam animais de carga. O momento em que o termo deixou de ser uma referência de origem e passou a denominar uma família não é possível precisar.

Origem
Há dificuldades óbvias em se estabelecer o local de origem ancestral de qualquer família. No entanto, a teoria que julgo ser mais consistente é a da origem burgalesa (de Burgos) e riojana (de la Rioja), mais precisamente em Quintanaélez, localidade de pequenos fidalgos nos verdes campos e arroios da planície de “La Bureba”, e em Santo Domingo de la Calzada, cidade tradicionalmente ligada à "rota vasca" do Caminho de Santiago. A região das duas localidades, no nordeste da província de Burgos e oeste de La Rioja, era ocupada por povos de língua basca na antiguidade, foi o berço do reino de Castilla e é a mais próxima dos teritórios bascos atuais, tendo sempre sido vizinha do Reino de Navarra (Pamplona).












A região pode ser considerada como o núcleo original do que veio a ser o Reino de Castela, a principal entidade política por traz da origem da Espanha Imperial e mesmo do país atual. A presença imemorial de povos vascos, a colonização romana (construtores da "calzada", uma estrada pavimentada titpicamente latina) e a disputa de seu território pelos reinos de Navarra e Castela (com a vitória final do último) marcam sua história, tanto quanto as rotas comerciais entre a Espanha cristã e o resto da europa e as de peregrinação religiosa. Ao longo dos tempos, principais referências urbanas foram a antiga villa de Briviesca e a gloriosamente histórica cidade de Burgos (distante uns 50 km tanto de Quintanaélez como de Santo Domingo).

Burgos é conhecida como “la cabeza de Castilla”, por sua posição setentrional e importância histórico-militar. É de Vivar, na província, o lendário Rodrigo Diaz, “El Cid Campeador”, sem dúvida o mais famoso personagem da idade média espanhola. El Cid comandou no século XII as forças cristãs do Reino de Castela contra os Mouros, nos primórdios da “Reconquista”. Sua história é um dos ícones do cavalheirismo medieval, e não deixa nada a desejar em relação ao mito de Artur e seus cavaleiros da távola redonda. Com a diferença que Rodrigo Díaz foi definitivamente real, e nunca usou uma coroa. El Cid e sua esposa Jimena, estão sepultados sob o transepto da Catedral Gótica de Burgos.



Burgos e sua Catedral (nas fotos eu e minha esposa Carolline)



Burgos foi fundada no ano 884, pelo conde castelhano Diego Porcelos, vassalo do Rei Alfonso III das Astúrias. Era um bastião militar fortificado e foi o primeiro front cristão contra os mouros de “Al Andaluz”, como foi chamada a Espanha sob domínio árabe desde o século VIII. Foi a primeira capital do Reino de Castela, antes de perder o posto para Valladolid e Madrid. Passa por Burgos o milenar “Camino de Santiago” onde os peregrinos cristãos eram protegidos pelos “Caballeros de Santiago” em sua romaria de Roncevales até Compostela, para venerar as relíquias do apóstolo Tiago “Maior”, fato que originou a única cruzada em território europeu.
O argumento a favor de que os Astete são originários da região a leste e nordeste de Burgos se baseia em registros de sua presença como cidadãos de Santo Domingo (no século XV) e como antigos "fidalgos de sangue" em Quintanaélez (pelo menos três gerações documentadas ao longo do século XVI). A hipótese alternativa para o local de orígem é Valladolid. São dessa província a maioria dos documentos oficiais onde são citados os Astete ao longo do século XVI. A raiz basca do nome, no entanto, favorece um pouco mais a área de influência de Burgos, especialmente as montanhas ao norte.

Primeiros registros
O primeiro documento onde é citado um Astete, passível de ser encontrado na Web, é uma citação de Miguel Astete como alcalde ordinario de Santo Domingo de la Calzada, em 1466, encontrada no livro "Colección Diplomática Calceatense", onde em conjunto com o também alcalde Diego Lopez de Orio ordena que se reconheçam e recompensem os serviços prestados ao Rei pelos cidadãos de Santo Domingo e por seu conselho. O segundo é uma peça jurídica. Trata-se de um processo de Gracián Astete, “alcalde” (prefeito) de Fuensaldaña, na província de Valladolid, contra Francisco de Agüero, corregedor de Becerril. Tal documento se encontra nos arquivos da “Real Chancilleria de Valladolid” e data de 1517. Don Gracián voltaria a recorrer ao tribunal em 1519.
Em 1521, Pedro Astete é citado como “alcalde” e adiministrador da fortaleza de Barcial de Loma (Valladolid). Foi casado com Ana de Ulloa, da família dos Marqueses de La Motta, e seu descendente Melchor de Astete foi fidalgo de Quintanaélez (segundo informações averiguadas e fornecidas por Carlo Gamarra Astete).
Em 1537 é registrado, na província de Salamanca, o nascimento do padre jesuíta Gaspar Astete, personagem que será comentado adiante.
Em 1548 Juan Bernal Astete recebe licença para viajar para o vice-reino de Nueva España, onde hoje se localizam a América central e o México. Não há notícias de que lá tenha realmente chegado ou se estabelecido.
Em 20 de setembro de 1553, Dona Mencía Fernandez e seu marido, Miguel Astete, fundam um “mayorazgo” (espécie de direito de primogênito de famílias ricas) para seu filho Lorenzo Astete, em Valladolid.
Arquivos da Igreja Católica, disponibilizados pelo Family Search da Igreja Mórmom americana, contêm os seguintes registros: em 28 de junho 1536 ocorre o batisado de Antonio Santillana Astete na igreja de San Miguel de Valladolid, sendo os pais Antonio Santillana e Maria Astete; em 01 de fevereiro de 1568 é batizada Ana Astete, na igreja de San Andrés de Valladolid, filha de um Astete cujo nome exato não foi descrito e de Juana Matia; em 12 de dezembro de 1570 ocorre o batismo de Miguel de Astete Monroy, filho de Lorenzo Astete e Luísa de Monroy, na igreja de San Miguel de Valladolid; 29 de maio de 1571 é a data do batizado de Dona Antonia Astete de Castro, filha de Miguel Astete e Juliana Castro, na igreja de San Nicolas de Bari, em Valladolid.
Em 30 junho de 1578 casaram-se, em Miraveche (Burgos), Melchor de Astete de Ulloa e Petronilla de Zárate. Don Melchor parece ser o fundador da Casa de Quintanaélez, dos “hidalgos” da família Astete.
Chama a atenção que tantos membros da família venham a surgir, quase simultaneamente, como figuras proeminentes e autoridades na Espanha do século XVI. Não se trata de caso isolado, parece que gozavam, de forma de geral, de confiança política, riqueza e acesso a cultura. O que lhes teria conferido tanto prestígio? Considerando os fatos políticos e militares do Reino de Castela, nos séculos XV e XVI, pode-se especular que tenham prestado serviços relevantes à coroa dos Reis Católicos, Fernando de Aragão e Isabela de Castela, e de seu herdeiro Carlos I. Entenda-se por “relevantes” nessa época, fundamentalmente, serviços militares.

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